Devaneios

Vamos falar sobre gritos?

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Ultimamente tenho experimentado uma sensação horrível: uma dificuldade absurda de me concentrar, de escrever, de ler, de produzir qualquer coisa. Dormir também tem sido uma tarefa ingrata. Por mais que eu queira, o barulho ensurdecedor não me permite. Independente de onde eu esteja continuo ouvindo de forma incessante.

Gritos. Gritos desesperados. Pedidos de socorro. O mundo agoniza, as pessoas agonizam. Vez que outra, uma brechinha de luz parece que surge e acalma por um milionésimo de segundo a fúria insana dos clamores.

Ninguém ouve. Ninguém vê. Todos estão tão absortos, engolidos pela máquina do dia a dia, fazendo sempre as mesmas coisas, tentando atingir um ideal… Não sei se as pessoas ensurdeceram pelo barulho (porque a gente acaba se acostumando a tudo, infelizmente), ou pela falta de prática do exercício de ouvir.

Ouvir. Parece tão simples… mas de quantas maneiras diferentes nós gritamos? Há gritos literais, e gritos silenciosos. Grita aquele que cala, e grita talvez com muito mais ansiedade. Grita aquele que se embriaga… o que se droga com substâncias legais ou não. Mas eles gritam!!!

Nas ruas, todos os dias, vejo vários deles gritando enquanto caminham de olhos vazios suplicando em silêncio. Ocasionalmente um grita mais alto e daí as pessoas leem nos jornais e comentam em sussurros: “nossa… mais um suicídio…” Mas ninguém ouviu os gritos.

Eu também grito. Muitas vezes, grito em silêncio, num silêncio que minha família e amigos já conhecem e percebem as vezes até antes de mim. Porque eu aprendi que tenho o direito de gritar e ser ouvida, e acredito que todos também precisam aprender a ouvir até mesmo os seus próprios gritos.

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