Ando pensando muito na vida e em nós dois. Podemos até dizer que tenho pensado na “nossa vida”, e digo isso entre aspas porque nunca senti isto de verdade. Eu tentei, sim, por diversas vezes acreditar que a gente era um casal, mas acho que você nem notou. Sim, porque você sempre está ocupado demais. Nem sei como você dá conta de tudo… a sua agenda é um verdadeiro labirinto onde me perco voluntariamente.
Claro, eu preciso dizer isso: foi consciente de tudo que eu mergulhei nesta relação solitária. Eu sabia que teria que te dividir com toda gente, e que teria momentos em que eu ficaria em segundo plano. Mas nem foi isso que aconteceu. Podemos dizer até que teria sido bom se tivesse sido assim. Se tudo acontecesse como o esperado, haveria momentos idílicos a serem vividos. Segredos escondidos na alcova em que eu sentiria silenciosamente a tua ausência…
Mas no fim, o que era para ser eventual acabou se tornando a regra. E eu me vi só no teu mundo e sem saber bem como voltar para o meu. Foi por isso que fugi, sabe? Eu tive medo. Depois de mais uma noite rolando entre os travesseiros eu me dei conta que não conseguia lidar com o teu desapego. Eu, que sempre fui forte, recuei. Pode parecer meio covarde isso, mas no fundo foi uma parcela de egoísmo misturada ao que sobrou do meu amor-próprio. Foi aquela criança lá de trás que não queria dormir no escuro, que acreditava em finais felizes, que acordou repentinamente. E, naquele momento do despertar, doeu demais. Eu me senti sangrando, inerte, enquanto o tempo lá fora corria assustadoramente rápido. Eu juntei meus pedaços e tentei sobreviver a nós.
O engraçado é que o mesmo tempo que passa correndo, então provoca um vendaval e remexe tudo. E, ironicamente, provoca uns redemoinhos que trazem de volta aquilo que a gente achou que tinha deixado bem guardado… Desarruma as gavetas da memória e desenterra os sentimentos. Foi assim que tudo recomeçou, nessa estranha gangorra de sentimentos que tentamos alimentar paulatinamente.
Tem coisas tuas pela minha casa: teu cheiro, teu sorriso, tua alegria. Talvez por isso eu continue tentando mais um pouquinho, quiçá eu consiga colar um pedacinho teu num pedacinho meu. Ou, como diria meu amigo Neto Alves: “Eu não posso garantir que o nosso amor irá durar para sempre. Eu só posso garantir o hoje – esse pequeno instante que nos separa das incertezas do destino.”.